quinta-feira, 9 de novembro de 2023

A noiva do Drácula (nova versão) - capítulo 24



 — Então... foi nele o teu primeiro beijo?

David perguntou a bela jovem sentada ao seu lado na mureta enquanto observavam o vai e vem das pequenas ondas formadas.

Luana ainda suspirava como uma boba apaixonada ao reviver tais memórias. Por dentro, David sentia a raiva lhe corroendo por inteiro, mas tentou ao máximo não tentar transparecer a ela suas reais emoções.

— Sim. — Luana fitou o amigo, sorrindo de orelha a orelha. — Acho que estou apaixonada.

Ela respondeu citando o rapaz mais velho que era de uma das turmas do segundo ano do mesmo colégio que estudavam.

"Apaixonada"... O que ela realmente sabia sobre tal sentimento?, David perguntou-se em silêncio enquanto a fitava em descrença.

Luana era boba e emocionada demais ao ponto de deixar-se envolver tão facilmente.

David desviou o olhar para o horizonte iluminado, sentindo-se contrariado. Ele sabia a resposta.

Luana não tivera seus sentimentos esmagados como ele - por isso, ela ainda era inocente.

— E você, David. Já se apaixonou por alguém? — Luana perguntou interessada.

No mesmo instante, David fitou aquele lindo rosto sorridente que ele tanto amava e seus olhos dançaram, o traindo. Mas Luana não havia notado o sinal.


David adentrou os jardins da casa com o seu carro preto como a noite quando as enormes portas de ferro maciço lhe deram passagem. Ele estacionou na vaga que lhe pertencia, desligou o carro e decidiu esperar um pouco antes de entrar, iniciando seus devaneios.

Ele sabia que o seu contentamento seria evidente pelo pessoal de casa. O sorriso brilhante ainda permanecia de orelha a orelha, não seria fácil disfarçar.

As mãos firmes e delicadas apertaram, sem muita força, o couro de ótima qualidade do volante.

Sim, ele havia conseguido. Luana o desejava quase tanto quanto ele.

Não se demorou muito a sair do carro e passar pelas portas duplas de madeira da casa, não se dando conta de que havia uma sombra acima de um dos telhados espreitando cada um de seus passos.

Ivan se encontrava em sua poltrona favorita, como sempre, lendo algumas notícias impressas do jornal. Esse, certamente, era um de seus passatempos favoritos, além de bebericar alguns goles de café nacional.

Não demorou muito para que o homem mais velho notasse a sua presença.

— David, que surpresa. Se divertiu?

David freiou o passo.

Ele pensou em ser sutil e não atrapalhar a leitura de Ivan, mas não havia dado certo.

— Acho que sim — respondeu não muito convincente.

Na verdade, não havia se divertido muito, nem mesmo conseguido se concentrar, antes de encurralar Luana naquele espaço escuro. Aquela, sim, havia sido a sua diversão.

— Tenho certeza que sim — Ivan disse o fitando atentamente. — O seu sorriso bobo te entrega.

David estalou a língua. Ele sabia que, pelo menos, um deles perceberia.

— Tem razão — concordou e olhou em torno da sala de estar, percebendo estar somente Ivan ali. — Shartene, Miranda? Alan?

— As criadas se recolheram, esperando por novas ordens. E Alan saiu não tem muito tempo. Ele me disse que iria a algum lugar resolver...

Antes que Ivan terminasse a resposta, as portas duplas do hall de entrada se abriram, revelando a figura de Alan. O semblante do tio mais novo transpassava total plenitude.

Ivan dobrou a folha do jornal, passando para outra página.

— Onde estava? — perguntou ao irmão mais novo.

— Como você disse antes a David: saí para resolver algumas coisas — Alan respondeu sem se incomodar com a intromissão do irmão enquanto se sentava à vontade em um dos sofás.

Ivan o fitou em desconfiança, mas Alan o ignorou; a sua atenção havia se voltado para David.

— Então, você se divertiu, certo?

David lançou-lhe um olhar irônico.

— Não te disseram que é feio espionar a conversa dos outros? — David disparou, embora fosse em tom de brincadeira.

Ele ainda se lembrava bem quando Alan lhe disse a mesma coisa quando era pequeno.

Alan sorriu, apesar de não lhe chegar aos olhos.

— Em minha defesa, digo que eu já estava prestes a entrar quando ouvi. Por que não se senta?

— Eu já iria subir para o meu quarto — David respondeu.

— Por favor, sente-se — Alan insistiu. — E conte-nos um pouco mais sobre a mulher que balança o seu coração.

David fez menção de andar em direção à escada, mas parou no mesmo instante em que Alan dissera as últimas palavras.

Agora, Ivan e Alan o fitavam atentamente, esperando por mais.

Como ele...?

— Sobre ter ouvido o início de sua conversa com Ivan agora há pouco — Alan justificou. — Quando alguém sorri de modo bobo, pode também ser por motivos românticos.

David suspirou pesadamente, dando-se por vencido. Não havia como esconder alguns segredos deles por muito tempo.

Retirou as mãos de dentro dos bolsos da jaqueta e fez como o pedido.

— O que vocês querem saber? — perguntou com o ar de desinteresse de sempre. — O que quer que seja, sejamos breves, pois pretendo subir para o meu quarto e descansar.

Ivan e Alan trocam mais um olhar, mas o irmão mais velho decidiu apenas observar e ouvir a conversa.

— Então, de fato, é uma mulher? — Alan indagou interessado. — Pergunto-me há quanto tempo ela faz o teu coração acelerar.

Isso ele não diria. Nada de detalhes mais profundos sobre a sua vida.

David quase bufou em descrença.

— Por favor, não exagere.

— Talvez não seja exagero — Alan contradisse. — Talvez você realmente esteja apaixonado por ela há muito tempo.

Ivan continuou a ouvir, calado.

David fitou o tio mais novo. O olhar do homem mais velho transpassava uma intensidade que ele não se lembrava de ter visto há um bom tempo.

Era apenas uma dedução, não era? Até que ponto Alan parecia ter conhecimento desse seu segredo mais íntimo?

Alan sustentou o olhar cauteloso de David por um breve instante. Pelo visto, o jovem rapaz ainda não desconfiava de nada, o que era ótimo.

— Estou apenas brincando, meu sobrinho — disse em tom despreocupado, apesar de saber que era o único naquela sala que parecia ter achado graça. — De qualquer modo, fico contente por você se enturmar e se distrair mais — completou.

Para David, tais palavras não eram tragáveis. Além de descrer em todo esse afeto e cuidado repentino vindo dos tios após anos de negligência, Alan parecia saber de algo.

Mas ele não se importaria com isso agora. Apesar dos pesares, Luana havia transformado a sua noite para melhor, e só aquilo importava para preencher bem o seu dia.

— Bem, obrigado, Alan — disse antes de forçar um sorriso amigável.

Os olhos cor de safira do mais velho ainda se encontravam fixos no sobrinho à sua frente. Ele ainda não sabia porque encarava David com tanta intensidade e, mesmo se soubesse, decidiu ignorar o sentimento nada bem-vindo e o olhar interrogativo de Ivan sobre si.

— Você se lembra sobre aquela garota sobre a qual mencionei? — Alan insistiria; estava sendo mais forte que ele.

David olhou em confusão para seus dois tios, perguntando-se a quem a pergunta havia sido direcionada. Como Ivan permaneceu a folhear seu jornal em silêncio, embora estivesse prestando atenção em cada palavra dita, David decidiu responder:

— A mulher que você pediu em noivado? “Bela Lua”, certo?

— Sim — Alan respondeu. Olhou para o sobrinho e para o irmão que parecia desinteressado na conversa - mas só parecia; talvez David não soubesse o que ele pretendia, mas sabia que Ivan desconfiava. — Eu a chamei para vir aqui amanhã à noite. Ivan já a conhece, portanto, eu gostaria de te apresentar a ela.

David assentiu, embora não estivesse interessado em ser apresentado a ninguém. Contudo, aquele certamente era um caso especial. O seu corpo relaxou sobre o encosto do sofá.

— Pelo visto, você está mesmo envolvido por essa mulher — David provocou.

Alan esboçou um sorriso controlado, os seus olhos fixos no sobrinho.

— Deveras. E ela por mim — salientou.

— Eu ainda acho isso tudo estranho — David iniciou. — Vocês dois eram tão obedientes à Elite, e agora Alan me aparece com uma "noiva", até mesmo inventando um nome falso para conquistá-la.

Ivan pigarreou e deu continuidade à leitura por outra folha do jornal.

— Também acho estranho — Ivan concordou sem olhar para os dois. — David última vez, isso não deu muito certo, e Alan sabe muito bem disso.

Alan decidiu ignorar as últimas palavras e o olhar avaliador de Ivan.

David engoliu em seco. Ivan havia se referido ao segundo mais velho entre o antigo trio de irmãos, o homem que já não se encontrava entre eles: seu pai.

— Não estamos mais na Romênia — Alan contrapôs. — A Elite não obtém qualquer influência sobre nós enquanto não estivermos lá.

Ivan o fitou atentamente.

— Se você diz... — Ivan comentou.

Alan lançou mais um olhar cúmplice para o irmão como se dissesse "e também não sou o Vlad". Ivan entendeu, mas ainda parecia estranhar - para não dizer "desaprovar" - aquele relacionamento repentino, e retornou à sua leitura.

Alan redirecionou a sua atenção para o sobrinho e forçou mais um sorriso amigável, embora esse não fosse tão genuíno quanto antes. Falar sobre Vlad e reviver certas memórias ainda revirava o seu estômago.

Decidiu continuar onde havia parado:

— Continuando sobre antes, eu convidei Bela Lua para vir hoje à noite. Por que você não convida essa sua amiga para vir também? Acho que seria de grande valia Bela Lua ter uma companhia de alguém como ela.

David esboçou um sorriso irônico.

Ainda que Luana tivesse se derretido em seus braços umas horas atrás, ele sabia que ela não iria querer vê-lo tão cedo em sua frente.

— Acho que isso não vai ser possível. — O canto de sua boca se retorceu num pequeno sorriso afetado.

— Ah, sim... — Alan refletiu assentindo enquanto o seu olhar se fixavam atentamente no sobrinho. — E por que não seria?

— Isso já se trata de domínio privado — David respondeu ao se levantar. — Talvez eu saia um pouco amanhã pra distrair um pouco a mente. De qualquer modo, estarei aqui para conhecer essa sua noiva. Por ora, vou descansar um pouco — e aproveitar o resquício de humanidade que ainda me resta, quis acrescentar, mas decidiu que não seria uma boa ideia. — Boa noite.

— Boa noite, meu jovem — Ivan despediu-se do sobrinho ao dobrar o jornal e apoiá-lo sobre a mesa de centro.

— Boa noite, David — Alan também se despediu com um pensamento divertido lhe passando pela mente. O dia seguinte seria interessante.

Não demorou muito para que Ivan soubesse que David já havia entrado no quarto, então aproveitou do momento a sós com o irmão.

Ce este, Ivan? (O que foi, Ivan?) — Alan perguntou após um longo suspiro. — Te uiți la mine de când am sosit. (Você está me encarando desde que eu cheguei.)

Mai multe despre una dintre patrulele tale? (Mais em uma de suas patrulhas?)

Uma sobrancelha de Alan se arqueou em surpresa pela pergunta.

Ah, sim. Agora ele entendia a que Ivan se referia.

Știi că da. Ți-am mai spus când David a plecat. (Você sabe que sim. Eu te disse antes quando David saiu) — respondeu.

Ai spus că vei rămâne pe urmele lui David dacă va fi necesar, din cauza stării lui. Nu că l-ai provoca folosind pe cineva apropiat lui (Disse que ficaria no encalço de David, caso fosse preciso, devido a condição dele. Não que o provocaria usando alguém próximo a ele) — Ivan disse em reprimenda. — Ce faci, Alan? (O que pretende, Alan?)

O canto dos lábios carnudos de Alan subiram num evidente sorriso malicioso que Ivan jamais havia visto antes no irmão mais novo - não nele.

In curand vei intelege (Em breve, você entenderá) — Alan disse antes de se levantar. — Sa ai o noapte buna, frate. (Tenha uma boa noite, meu irmão.)

Ivan acompanhou em desconfiança os passos de Alan até a saída.

Era irônico Alan atualmente querer se distanciar tanto de Vlad e, mesmo que de modo inconsciente, seguir quase os mesmos passos do irmão.

Se já não bastasse David com seus segredos e incógnitas, Alan também estava indo pelo mesmo caminho.

Tomaria um gole de café para se ocupar com algo do qual gostava. Relembrar o passado, ou pensar nessa disputa imaginária entre Alan e David, não ajudaria em nada.

Pegou o sino prateado sobre a mesa de centro e o sacudiu levemente para o despertar de suas criadas.

°•♤•°

David pôde ouvir um pouco do que eles disseram.

Pelo que ele havia entendido, Alan seguia seus passos como uma sombra. Eles queriam controlá-lo, mantê-lo sobre duras rédeas para quando as mudanças de seu corpo e sentidos começassem a ficar mais bruscas. Não importava se a Elite não teria influência sobre eles por conta da distância em que se encontravam, Ivan e Alan sempre se manteriam fiéis, pelo menos no que se tratava dele.

David suspirou profundamente e andou a passos firmes em direção a seu quarto, fechando a porta atrás de si.

David contraiu o maxilar, dando margem a irritação. Um mestiço imundo e impuro, era isso o que ele era e sempre seria. Sempre seria tratado como uma escória pela Elite, e também pelo único resquício que sobrara de sua família.

Decidiu, por fim, não pensar mais naquilo. O dia de hoje havia sido quase perfeito e não o estragaria com pensamentos nada bem-vindos.

Os olhos cor de safira se ergueram na direção à moldura contendo o sorriso mais perfeito do mundo. David sorriu automaticamente. Sua linda Luana.

Sem tirar os olhos do quadro, ele tirou peça por peça de suas vestes, enquanto seus passos avançavam em direção ao objeto.

— Sabe, meu amor — David deu início a mais um de seus delírios como sempre fazia quando se encontrava de frente ao retrato daquela linda mulher. — Eu adorei esta noite, com exceção de algumas coisas — disse quase de modo amargo, lembrando-se do beijo que Nina lhe dera, e no copo de cerveja que havia se transformado num cálice de sangue.

A jaqueta de couro escura e a blusa que ele havia usado por debaixo já estavam amontoadas no meio do quarto. O par de tênis foi jogado no mesmo local.

— Se você ao menos soubesse, Luana, o quanto eu te desejo... — David sorriu verdadeiramente, transpassando todo o seu desejo e amor. Desfez o cinto da calça e o jogou no chão. — Mas hoje eu percebi, meu amor. Percebi o quanto você me deseja também. — Ele desabotoou os dois primeiros botões da calça numa lentidão paciente e quase dolorosa. — Por favor, não tente esconder...

O zíper, antes enganchado, desfez em dois o trilho de metal, o que deu passagem para a mão direita descer lentamente em direção ao contorno já totalmente enrijecido escondido pela peça íntima.

David suspirou desejoso pelo iniciar dos movimentos de sua mão e cerrou as pálpebras, deixando encostar a testa na borda do quadro.

Ele sorriu em meio a respiração quase ofegante.

Apenas em se lembrar em como Luana havia ficado enciumada por causa de Nina, e como ela havia correspondido ao seu beijo, quase tão sôfrego quanto o dele, o enlouquecia ainda mais; dava-lhe certeza de que o seu sentimento não era simplesmente platônico e unilateral.

— Eu te quero, Luana. — Os olhos cor de safira fitaram de modo estreito, quase cerrados, cada detalhe da linda mulher do quadro. Cada movimentar passava a ser mais rápido e intenso, fazendo-o soluçar de prazer. — Para sempre.

°•♤•°

Tudo estava tão quieto, Luana pensou ao abrir a porta do quarto, uma mão segurando o par de ankle boots, tendo o cuidado de não fazer barulho. Embora se sentisse tão cansada e desanimada para qualquer coisa, foi rápida ao tirar as roupas e vestir um conjunto de pijama. Pôs com cuidado o par de sapatos no lado do guarda-roupa e devolveu a bolsa transversal ao cabideiro.

Ignorou ao máximo sua silhueta refletida pelo espelho, pois bem sabia que não estava bem emocional e psicologicamente - tudo por causa dele.

Jogou-se sem cerimônia na cama e se demorou um pouco fitando o "céu estrelado" do teto que ganhara de presente quando ainda tinha oito anos de idade. Ainda se perdendo em pensamentos e lembranças do quão menos complicado parecia ser o seu passado, Luana tateou à procura de sua manta quentinha e se cobriu quase que completamente, assumindo uma posição quase fetal.

Seus olhos castanhos ainda se encontravam bem abertos, embora estivesse muito cansada. Teria dificuldade em deixar-se levar, por ora, mas se esforçaria apenas em cerrar as pálpebras e deixar que o sono viesse; seria melhor do que vagar por pensamentos inoportunos.

O melhor que poderia fazer agora seria dormir... E não pensar em mais nada.


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