quinta-feira, 9 de novembro de 2023

A noiva do Drácula (nova versão) - capítulo 23



Luana abriu caminho entre algumas pessoas que conversavam ou dançavam conforme o ritmo da música sobre a pista de dança; parecia haver mais pessoas comparado a antes. Ela conseguia sentir e ouvir o seu coração bater acelerado mesmo tendo passado um bom tempo escondida numa das cabines do banheiro para tentar se acalmar do ocorrido recente.

— Jéssica.

Luana chamou a amiga que dançava junto a Fred. Nina não estava presente, e nem Luana queria olhar para a cara dela. Não ainda.

— Luana? O que houve? — Jéssica parou de se mover e a encarou preocupada. — Você está branca como um papel. Aconteceu alguma coisa?

Fred também voltou sua atenção para ela.

Luana esboçou seu melhor sorriso. Não contaria o ocorrido a eles.

— Não — Luana respondeu tentando acalmar as batidas frenéticas de seu coração — Está tudo bem.

Jéssica a encarou com desconfiança.

— Tem certeza?

Luana esboçou um sorriso tranquilizador.

— Claro — mentiu, mas ninguém precisava saber. — Só bebi demais.

— Ok, então. — Jéssica sorriu aliviada e estendeu o copo de bebida que segurava para que Fred pegasse. — Vamos dançar.

— Jéssica, eu já vou — Luana se adiantou antes que Jéssica a levasse para o centro da pista.

— O quê? Mas já? — Jéssica perguntou incrédula. — Praticamente, acabamos de chegar.

Fred continuou a analisar Luana por um breve instante e depois desviou o olhar. Ele parecia saber de algo, ou seria apenas coisa de sua cabeça.

— Luana, quase não ficamos juntos hoje. Eu pretendia sair daqui um pouco mais tarde e aproveitar até o último momento com os meus amigos. — Jéssica suspirou frustrada.

— Houve alguns problemas lá em casa — Luana inventou alguma desculpa que fosse ao menos tragável. — Minha madrinha.

Fred manteve-se calado, mas esboçou a mesma expressão de preocupação de Jéssica.

— Oh, meu Deus, ela está bem? — Jéssica indagou.

— Sim, parece estar um pouco melhor, mas eu tenho de estar com ela — Luana respondeu.

— Ora, então vamos — Jéssica se adiantou. — Te levamos em casa.

Luana fez um gesto tranquilizador, a impedindo.

— Por favor, não precisa. Já chamei um táxi e ele vai me deixar na porta de casa — Luana explicou. — Fiquem e divirtam-se.

— Tem certeza de que não quer que te levemos, Luana? — Fred perguntou deixando transparecer um tom de preocupação. Tarde da noite e uma mulher estando sozinha, mesmo que na companhia de um motorista, parecia não ser uma boa combinação. — Não tem problema, você sabe.

— Tenho certeza — Luana respondeu tentando parecer o mais convicta possível. — Fiquem mais um pouco e se divirtam. Vou direto pra casa, e aviso a vocês quando eu chegar.

Luana sabia que em pouco tempo Jéssica descobriria a verdade em relação a Leonora, mas esse era o único modo de sair dali enquanto era tempo.

— Me desculpe sair agora — Luana disse com modéstia. — Podemos compensar qualquer outro dia.

— Não, tudo bem — Jéssica concordou em imediato, compreendendo a situação. — Mas se dona Leonora ficar bem, o outro dia seria amanhã. Se lembra que marcamos de ir à praia?

Luana assentiu vagamente. Ela havia se esquecido, mas não confessaria. Aliás, nem mesmo conseguia sentir vontade de ir com eles para outro lugar no dia seguinte. Principalmente em encarar mais uma vez uma certa pessoa.

— Sim, me lembro — respondeu. — Mas, sobre isso, ainda confirmarei se vou ou não.

— Tudo bem, não se preocupe — Jéssica a tranquilizou. — Dê o apoio necessário a dona Leonora e descanse o quanto puder. Infelizmente, David saiu daqui na pressa e nem mesmo disse se iria ou não conosco amanhã.

Luana engoliu em seco e assentiu rapidamente enquanto a sua mente lhe retornava lembranças de poucos minutos atrás.

— Entendo — disse simplesmente, tentando forçar uma voz mais firme que não deixasse transparecer o seu nervosismo. — Então eu já vou. Muito obrigada pela noite. E felicidade ao casal.

Luana e Jéssica apertaram os dois pares de mãos em cumprimento amigável e sorriram. Dessa vez, o sorriso que Luana mostrava era genuíno.

— Obrigada, Lu — Jéssica agradeceu. — Aproveite para se despedir de Nina também. Ela está lá na mesa tomando conta das nossas coisas.

As sobrancelhas de Luana se arquearam em surpresa. Havia passado pelas mesas e não notara a presença de Nina. Talvez porque estivesse alterada demais pra perceber a presença de qualquer um, uma voz lhe lembrou.

— Sim, irei — Luana disse. — Até.

— Luana — Fred a chamou antes que ela pudesse sair.

Luana se voltou e esperou pelo que ele teria a dizer.

Fred parecia um pouco pensativo, como se estivesse num conflito interno. Ele esboçou um sorriso amarelo para Luana.

— Espero que tudo fique bem — ele disse.

O cenho de Luana se franziu em ligeira confusão. Por que Fred parecia tão estranho, como se estivesse ocultando algo?, Luana se perguntou em silêncio. No fundo, ela sabia que ele não havia se referido ao suposto estado de Leonora, mas a outra coisa. Talvez ele tivesse conhecimento de sua situação complicada com David. David teria dito a ele? Afinal, os dois estiveram sozinhos antes.

Seria melhor não pensar em coisas do tipo.

Luana abriu um sorriso fechado em agradecimento.

— Obrigada — disse quase em murmúrio. — Entrarei em contato — disse e saiu da pista.

°•♤•°

— Nina? — Nina deixou de rolar a barra da tela do celular quando ouviu o seu nome e olhou para cima.

— Luana? — Ela falou surpresa e deu espaço para que a amiga pudesse se sentar ao lado; não que fosse preciso. — Você demorou um pouco.

Luana se sentou ainda em silêncio, sem saber exatamente como falaria, pois já tinha as palavras certas em mente.

— Eu já estou indo embora — Luana respondeu o comentário anterior, também como uma forma de se sentir hesitante em relação ao assunto de que se trataria. — Já falei com Jéssica e Fred, e vim me despedir de você.

Nina a encarou com surpresa e desapontamento.

— Mas, já? Ainda é cedo — disse Nina.

— Eu preciso fazer umas coisas importantes em casa — Luana disse sem se demorar no assunto. Queria falar sobre outra coisa, mas, infelizmente, nada saía.

— Entendo — Nina disse simplesmente olhando para a torre de bebida quase vazia. Eles ainda não haviam pedido a segunda dose.

Luana notou que ela parecia estar muito quieta. Não que Nina fosse uma pessoa totalmente extrovertida e falante, mas algo parecia estranho.

— Você parece desapontada — Luana refletiu olhando para ela.

Como um modo de se distrair, Luana acompanhou os desenhos trançados da alça da bolsa com o dedo indicador enquanto Nina se manteve num breve silêncio.

— Digamos que o plano da Jéssica não deu muito certo — Nina disse e expeliu o ar em evidente frustração.

Luana demorou alguns segundos para entender a que ela se referia: seu encontro com David. Mesmo com sua hesitação, elas entrariam naquele assunto, de todo modo.

— E... por que você diz isso? — Luana indagou interessada.

Nina a fitou.

— Tivemos uma breve conversa no carro, conversamos um pouco mais aqui e, quando ocorreu a oportunidade, nos beijamos. — Nina respondeu e esboçou um curto sorriso triste.

Luana assentiu se lembrando. Ela vira a cena que lhe causou um desconforto tão grande como nenhum outro - pelo menos, não daquela noite.

— E você gostou? — perguntou ao tornar a olhar para Nina. A sua voz transpassava um tom quase rouco.

— Sim, eu gostei — Nina respondeu. — Mas ele, infelizmente, não. — Ela suspirou profundamente. — Saiu de perto de mim, foi para qualquer outro lugar que eu não sei, e depois retornou alegando que iria embora.

Luana assentiu mais uma vez, refletindo em tudo o que Nina dissera até ali.

— Ele disse o motivo?

Nina a fitou sem entender.

— Motivo? — repetiu.

— Pelo qual iria embora — Luana especificou.

Nina meneou a cabeça.

— Não quis dizer, apenas disse que iria. Aliás, disse mais para Fred do que para mim. — Nina esboçou outro sorriso sem vontade e deu de ombros. — Tudo bem, não é como se ele me devesse satisfação só por causa de um beijo.

— Nina, eu...

Nina prestou atenção ao que Luana queria dizer.

Luana ainda se sentia muito desconfortável com o que queria dizer a amiga, não somente por não saber como abordar o assunto, mas também por se tratar de um alguém que ela continuava tentando, com todas as suas forças, manter à distância, apesar de não ter dado muito certo uns minutos atrás.

Luana não queria magoar Nina, mais do que já parecia estar magoada, mas precisava colocar para fora o que estava sentindo; um misto de emoções e sentimentos tão obscuros e intensos que podia sentir-lhes esmagá-la por dentro.

— Eu não me lembro muito bem se disse mais sobre David a você... — Luana iniciou, mesmo sentindo a sua voz tão trêmula.

— Bem, eu me lembro de você ter dito na empresa que sentia medo de David — Nina disse. — Embora eu não entenda porque você sente medo dele, já que se conhecem há dez anos.

Essa era a deixa para que Luana continuasse. E deveria parecer o mais convincente possível.

— É exatamente por conhecê-lo há tanto tempo, que tenho total propriedade para dizer que David mudou muito de uns anos para cá — Luana disse sem hesitação dessa vez.

Nina a encarou ainda sem entender. Luana chegou um pouco mais perto.

— David mudou, Nina - e para pior. Ele não é mais o cara gentil de antes.

Tanto a expressão do rosto quando do corpo de Luana apresentavam uma maior confiança que outrora. Os olhos castanhos de Nina tremularam em confusão.

— Mas David sempre foi fechado conosco, Lu — contrapôs. — Talvez seja o jeito dele.

— Nina, eu sei o que é o "jeito" dele, e posso dizer com todas as letras que há mais nessa história. — Luana teve de se conter para não parecer agressiva nas palavras e no modo de se expressar. — David parece estar envolvido com coisas estranhas, que nem mesmo eu tenho conhecimento, pois ele sabe que eu o enfrentaria.

Certamente, aquilo era mentira. Luana apreciava muito a amizade que teve com David durante todo esse tempo, mas a distância entre eles era tão palpável e intensa que ela não tinha certeza de que seria o certo enfrentá-lo, seja qual fosse o problema.

— E o que você sugere? — Nina pareceu pensativa. Era nítido que ela gostava dele.

— Fique longe dele — Luana disse rápido, antes mesmo de pensar numa boa resposta, como se fosse algo automático. — Quer dizer, eu gostaria que ele tivesse você como alguém com quem pudesse contar e estar ao lado — O que em parte, não era mentira. — Mas seria injusto e desleal de minha parte não te alertar sobre o problema em que você pode se meter.

"Injusta e desleal", uma voz interior de Luana repetiu em evidente ironia. Agora ela não tinha mais moral para pensar o que fosse de David. Mas resolveu não dar ouvidos a essa voz interior, pelo menos por enquanto.

Nina nada mais disse e pareceu ponderar sobre o assunto, servindo-se de mais um gole da bebida quase quente.

Luana ajeitou a sua bolsa de lado e mais uma vez olhou para a amiga. Certamente, ela se sentiria culpada depois.

— Eu já vou — disse Luana ao se levantar. — Amanhã nos falamos.

Nina esboçou um sorriso não muito à vontade e apertou a mão de Luana num gesto carinhoso de despedida.

— Obrigada por ter me dito isso, Lu — Nina disse com sua voz suave e, embora fosse um agradecimento, a sua voz transparecia tristeza e desapontamento. — Vou pensar mais sobre, prometo.

Tudo o que Luana pôde fazer foi esboçar um sorriso amarelo e sem jeito, assentir e sair de lá enquanto era tempo, antes de se arrepender de seu ato completamente confuso e duvidoso. Dizer aquelas coisas para Nina a havia feito sentir culpa, muita culpa... mas, acima de tudo, alívio.


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